Responsabilidade Civil do Empregador por Morte ou Doença do Empregado: Fundamentos e Controvérsias
Introdução: O que está em jogo quando ocorre morte por causas naturais durante o trabalho?
A evolução do Direito do Trabalho no Brasil promove debate intenso sobre a responsabilidade do empregador diante de mortes ou doenças relacionadas ao ambiente laboral. O ponto de partida consiste em compreender se todo infortúnio ocorrido, como mortes por infarto ou AVC durante o expediente ou em decorrência do trabalho, configura acidente de trabalho ou gera responsabilidade automática da empresa.
Essa análise exige detalhamento sobre nexo causal, culpa, o alcance do conceito de acidente do trabalho e as hipóteses em que o empregador pode – ou não – ser responsabilizado civil e/ou objetivamente. A seguir, desmembramos a base legal e as principais linhas doutrinárias e jurisprudenciais sobre o tema, focando especialmente nos casos de morte súbita por causas naturais como infarto ou AVC.
Acidente de Trabalho: Conceito, Requisitos e Categorização
O conceito jurídico de acidente do trabalho está previsto no artigo 19 da Lei n.º 8.213/1991: “Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa … provoque lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”.
Além disso, o artigo 20 define que as doenças profissionais e as doenças do trabalho são equiparadas como acidente do trabalho. Todavia, o mesmo diploma exclui expressamente (art. 20, §1º) as doenças degenerativas, endêmicas (quando não contraídas no ambiente do trabalho) e as inerentes a grupo etário.
Em casos de morte súbita por infarto ou AVC, a classificação como acidente do trabalho depende da demonstração do nexo causal, ou seja, da ligação entre a função exercida, o ambiente e os fatores desencadeantes.
Risco, Culpa e Nexo Causal
No campo da responsabilidade civil trabalhista, discutem-se dois paradigmas: a responsabilidade subjetiva (comprovada a culpa ou dolo do empregador) e a objetiva (basta a demonstração do risco da atividade, nos termos do art. 927, parágrafo único, do Código Civil).
Para a responsabilização, é essencial identificar:
– O nexo causal entre o evento (infarto, AVC) e as condições laborais.
– A existência de atos culposos (excesso de jornada, pressão, ambiente inadequado) que tenham precipitado ou contribuído para o evento.
– Se a atividade da empresa é de risco acentuado, o que pode gerar responsabilidade objetiva.
A jurisprudência demanda cautela: a simples coincidência de infarto ocorrido em horário de trabalho não significa, per se, responsabilidade da empregadora. A doutrina majoritária entende que doenças preexistentes ou infarto decorrente de causas naturais, sem vinculação direta com as atividades ou condições do ambiente laboral, excluem o dever de indenizar o empregado ou seus sucessores.
O que dizem o TST e os Tribunais Regionais?
O Tribunal Superior do Trabalho tem reiterado que, para atribuir responsabilidade à empresa por morte súbita, exige-se clara comprovação de que as condições do trabalho (ex: estresse excessivo, sobrecarga, exigências físicas incompatíveis, falta de pausas) tenham contribuído significativamente para o evento letal. A mera ocorrência durante o expediente não robustece, por si só, o nexo causal.
Há, porém, decisões que reconhecem a responsabilidade do empregador quando demonstradas situações atípicas, como imposição sistemática de jornadas exaustivas, ausência de pausas para alimentação, descumprimento de normas de medicina e segurança do trabalho ou omissão ante sintomas evidentes de mal-estar.
Para advogados trabalhistas, a correta avaliação do conjunto probatório, sobretudo laudos médicos, CATs, fichas de registro de ponto e testemunhos, é etapa indispensável para definir a viabilidade e a extensão da responsabilização civil.
Responsabilidade Objetiva no Ambiente Laboral: Limites e Exceções
A responsabilidade objetiva do empregador – prevista no art. 927, parágrafo único, do Código Civil –, exige como pressuposto que a atividade normalmente desenvolvida pela empresa implique, por sua natureza, risco para os direitos do empregado.
Em regra, atividades corriqueiras, administrativas, comerciais ou agrícolas não ensejam risco extraordinário, afastando a hipótese de responsabilidade objetiva em casos de mal súbito de origem natural (ex: infarto em trabalhador rural ou operador de máquinas que não esteja submetido a pressão ou condições insalubres).
Por outro lado, setores com grau intensificado de periculosidade (mineração, construção civil, transporte), podem ser enquadrados na lógica do risco-proveito, admitindo a responsabilização objetiva no caso de morte súbita se associados à atividade.
A análise detalhada de provas periciais é fundamental para a correta subsunção ao dispositivo legal.
Se você atua com demandas trabalhistas envolvendo acidentes ou doenças ocupacionais, o domínio dos critérios de responsabilização é essencial para uma prática jurídica sólida. Uma profundidade ainda maior nesse campo pode ser alcançada por meio de uma formação avançada, como a Pós-Graduação em Acidente do Trabalho e Doenças Profissionais.
Excludentes de Responsabilidade: Doença preexistente e Fato de Terceiro
As excludentes clássicas, previstas nas regras gerais da responsabilidade civil, aplicam-se à seara trabalhista: doença preexistente (sem agravamento ou aceleração pelo labor), ato exclusivo de terceiro, força maior ou culpa exclusiva da vítima são elementos capazes de afastar o dever de indenizar.
Para tanto, o empregador deve, preferencialmente, possuir documentação médica admissionais e periódicas que comprovem o acompanhamento habitual da saúde do trabalhador e agir de acordo com as normas de segurança, fornecendo EPI’s, orientações e condições laborais adequadas.
Aspectos Práticos da Defesa e Proposição de Ações Judiciais
Para advogados, seja em demandas autorais ou em defesa, alguns pontos críticos merecem atenção prática:
– Produção antecipada de provas: laudos médicos, prontuários, CAT, documentos de controle de jornada, relatos de testemunhas.
– Atenção à verificação do nexo técnico epidemiológico (NTEP), que pode gerar presunção relativa de acidente do trabalho (art. 21-A da Lei 8.213/91), mas admite controvérsia mediante robustez da prova pericial.
– Defesa técnica sobre ausência de nexo causal específico, aplicando-se a orientação do STJ e do TST para casos de doenças de origem multifatorial.
A qualificação jurídica sobre os requisitos do dano, culpa e nexo causal também será determinante para evitar condenações genéricas ou pleitos excessivos, protegendo o cliente e promovendo justiça nas decisões.
O aprofundamento no tema, por meio do estudo dos fundamentos da responsabilidade civil trabalhista e perícia médico-legal, é vital para a correta atuação profissional e prevenção de passivos inesperados. Uma formação robusta como a Pós-Graduação em Acidente do Trabalho e Doenças Profissionais propicia atualização e domínio técnico sobre essas nuances.
Responsabilidade Previdenciária e Reflexos no INSS
Independentemente da esfera cível, a morte por infarto ou doença súbita durante o contrato de trabalho pode gerar reflexos previdenciários.
O art. 21, I e II, da Lei 8.213/91, amplia conceitos de acidente de trabalho para efeitos de concessão de benefícios previdenciários (auxílio-acidente, pensão por morte por acidente do trabalho), desde que comprovado o nexo causal.
Portanto, mesmo que a esfera judicial afaste a responsabilidade civil do empregador, o INSS pode entender pela concessão de benefício acidentário aos dependentes, diante do vínculo fático e do entendimento pericial sobre a origem do evento.
Para os operadores do Direito, é fundamental compreender e separar as consequências nas diversas esferas: trabalhista, cível e previdenciária.
Considerações Finais: Jurisprudência, Atualidade e Prevenção
A responsabilidade civil do empregador por morte ou doença não é automática diante de causas naturais. O filtro do nexo causal, aliado à eventual existência de culpa e à natureza da atividade empresarial, deve ser criteriosamente observado para evitar distorções e insegurança jurídica.
A atuação profissional neste campo exige rigor técnico, atualização legislativa e leitura atenta dos posicionamentos de TST, STJ e do Supremo Tribunal Federal.
Destaca-se que a adoção de medidas preventivas, como programas de controle médico e de segurança, treinamentos periódicos e avaliação individualizada de riscos ocupacionais, favorece não apenas o ambiente saudável, mas também a mitigação de litígios trabalhistas.
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Insights
O aprofundamento no diagnóstico diferencial do nexo causal, tanto em questões técnicas quanto jurídicas, será cada vez mais determinante nas decisões sobre responsabilidade civil em mortes súbitas laborais. A crescente valorização do dano moral e material exige que o advogado esteja atualizado quanto às condições para imputação de responsabilidade. Por fim, a atuação consultiva preventiva, especialmente em ambientes de alta pressão e risco, será a maior tendência para evitar litígios e construir ambientes laborais mais seguros.
Perguntas e Respostas
1. O empregador é sempre responsável por mortes súbitas ocorridas no trabalho?
Não. A responsabilidade do empregador depende da existência de nexo causal entre o trabalho e o evento, bem como de culpa ou atividade de risco. Se o infarto, por exemplo, decorrer de causas naturais sem ligação com o ambiente ou função, a responsabilidade é afastada.
2. Quais provas são fundamentais para demonstrar (ou afastar) o nexo causal?
Laudo médico pericial, prontuários, exames admissionais e periódicos, controles de jornada, CAT, testemunhos e estudos sobre o ambiente de trabalho são cruciais para fechar o diagnóstico técnico-jurídico.
3. Atividades de baixo risco podem gerar responsabilidade objetiva do empregador?
Não, a responsabilidade objetiva, via de regra, se aplica a atividades que apresentam risco inerente maior do que o ordinário. Nas demais, permanece a necessidade de provar culpa do empregador.
4. Caso o INSS conceda benefício acidentário, a decisão judicial pode ser diferente na esfera cível?
Sim, pois o padrão probatório e os requisitos podem variar em cada esfera. O reconhecimento previdenciário não implica, necessariamente, a condenação civil da empresa.
5. Como prevenir passivos nesse contexto?
Implementando programas robustos de segurança e saúde ocupacional, mantendo histórico médico atualizado dos funcionários, gerindo cargas horárias adequadamente e promovendo cultura organizacional preventiva.
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Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm
Este artigo teve a curadoria da equipe da Legale Educacional e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir do seu conteúdo original disponível em https://www.conjur.com.br/2025-out-09/trt-23-afasta-responsabilidade-de-fazenda-por-morte-de-operador-que-sofreu-infarto/.