A Configuração do Grupo Econômico Familiar: Entre a Blindagem Patrimonial e a Realidade Forense
A fase de execução trabalhista representa, sem dúvidas, o maior gargalo do judiciário brasileiro. É o momento em que a tese jurídica vitoriosa precisa se converter em liquidez. No entanto, o advogado que atua nesta etapa, seja pelo credor ou pelo devedor, depara-se frequentemente com um cenário cinzento: a estrutura do grupo econômico familiar.
Diferentemente das grandes corporações com organogramas públicos, o grupo familiar opera nas sombras da informalidade e da confiança pessoal. O desafio técnico aqui não é apenas identificar parentesco, mas distinguir com precisão cirúrgica o que é uma holding familiar lícita (planejamento sucessório e tributário) do que é uma engenharia fraudulenta desenhada para frustrar credores.
Este artigo propõe uma análise crítica e atualizada sobre o tema, fugindo do senso comum e abordando as ferramentas modernas de investigação patrimonial e as teses de defesa mais robustas.
O Grupo Econômico na Era Pós-Reforma: A Letra da Lei vs. A Jurisprudência dos TRTs
A Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017) alterou a redação do artigo 2º da CLT, introduzindo o § 3º, que trouxe uma limitação teórica importante: a mera identidade de sócios não caracteriza o grupo econômico. O texto legal exige a demonstração de:
- Interesse integrado;
- Efetiva comunhão de interesses;
- Atuação conjunta das empresas integrantes.
Contudo, o operador do Direito não pode ser ingênuo. Embora a lei tenha elevado o padrão probatório, a realidade dos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) demonstra uma resistência a essa formalidade estrita. Aplicando o Princípio da Primazia da Realidade e a teoria do empregador único, muitos magistrados continuam reconhecendo o grupo econômico baseados na coordenação informal.
Para a defesa, fiar-se apenas na letra fria do § 3º é uma estratégia de alto risco. Há uma verdadeira “queda de braço” hermenêutica entre turmas do TST e juízos de piso. Portanto, a argumentação deve ir além da ausência de sócios em comum, provando a total independência de centros de custo e a ausência de ingerência administrativa.
Distinção Técnica Vital: Grupo Econômico vs. Desconsideração da Personalidade Jurídica
Um erro técnico comum na prática forense, e que pode custar o êxito da execução ou da defesa, é confundir o instituto do Grupo Econômico com o da Desconsideração da Personalidade Jurídica (DPJ).
- Grupo Econômico (Solidariedade): Baseia-se no Art. 2º, § 2º da CLT. Aqui, reconhece-se que várias empresas formam um único empregador. A responsabilidade é solidária e direta. Não se “desconsidera” a personalidade de ninguém, apenas se estende a responsabilidade a outro ente com personalidade própria que compõe o mesmo núcleo econômico.
- Desconsideração (DPJ): Baseia-se no Art. 50 do Código Civil (Teoria Maior) ou Art. 28 do CDC (Teoria Menor). Visa atingir o patrimônio dos sócios ou administradores por abuso da personalidade, desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
Embora processualmente ambos utilizem hoje o veículo do Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica (IDPJ) — especialmente para garantir o contraditório de empresas não citadas na fase de conhecimento (pós-cancelamento da Súmula 205 do TST) — o fundamento material é distinto. O advogado deve saber qual “carta” jogar: alegar confusão patrimonial para atingir o sócio (DPJ) ou alegar coordenação e interesse integrado para atingir outra empresa (Grupo Econômico).
Aprofundar-se nessas distinções é o foco da Pós-Graduação em Nova Execução Trabalhista, que prepara o profissional para manejar corretamente os incidentes processuais.
Investigação Patrimonial Moderna: Além do SISBAJUD
A prova da existência de um grupo econômico familiar fraudulento raramente é documental no sentido clássico. Ninguém assina um “contrato de fraude”. A prova é indiciária e baseada na Teoria da Aparência.
O advogado que se limita a pedir SISBAJUD e INFOJUD está obsoleto. A advocacia de alta performance (high-end litigation) utiliza ferramentas de rastreio profundo para evidenciar a gestão compartilhada:
- CENSEC (Central Notarial de Serviços Eletrônicos Compartilhados): É a “bala de prata” nos grupos familiares. Permite descobrir procurações recíprocas. Se o sócio da Empresa A tem procuração para movimentar a conta da Empresa B (que está em nome do sobrinho), a autonomia é fictícia.
- CCS (Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional): Revela quem são os procuradores de fato nas contas bancárias, independentemente do contrato social.
- SNIPER (Sistema Nacional de Investigação Patrimonial e Recuperação de Ativos): Ferramenta do CNJ que cruza bases de dados para desenhar visualmente as teias societárias e vínculos patrimoniais.
Além disso, a prova digital — como a identidade visual em sites, e-mails corporativos cruzados e compartilhamento de endereços físicos — reforça a tese de unidade econômica.
A Defesa: Legitimidade do Planejamento Sucessório
Por outro lado, é crucial não criminalizar a priori as estruturas familiares. Nem toda holding familiar visa fraudar credores. O planejamento sucessório e a organização patrimonial são instrumentos lícitos do Direito Empresarial.
A defesa eficaz de uma empresa familiar acusada de compor grupo econômico deve focar na demonstração de autonomia operacional e financeira.
Não basta alegar CNPJs diferentes. É necessário provar que não há “caixa único”. A defesa deve demonstrar que as transações entre as empresas (se houverem) são onerosas, de mercado, e contabilizadas corretamente, afastando a presunção de confusão patrimonial. A “blindagem” só se torna ilícita quando há esvaziamento malicioso de ativos em prejuízo de créditos alimentares preexistentes.
Conclusão e Atuação Profissional
A execução contra grupos econômicos familiares é um campo minado que exige muito mais do que conhecimento básico de CLT. Exige domínio de Processo Civil (para o manejo do IDPJ), de Direito Societário (para entender holdings) e de ferramentas de investigação tecnológica.
Seja para quebrar uma blindagem fraudulenta utilizando o CENSEC e a Teoria da Aparência, seja para defender a licitude de um planejamento sucessório familiar, a técnica jurídica precisa ser refinada. O mercado não aceita mais amadorismo na fase executória.
Para dominar essas ferramentas avançadas, compreender a “Teoria Menor” vs. “Teoria Maior” da desconsideração e atuar com segurança jurídica, conheça o curso de Pós-Graduação em Nova Execução Trabalhista. Transforme sua advocacia com conhecimento prático e estratégico.
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Acesse a lei relacionada em Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
Este artigo teve a curadoria da equipe da Legale Educacional e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir do seu conteúdo original disponível em https://www.conjur.com.br/2025-dez-07/tst-reconhece-fraude-familiar-e-mantem-ampliacao-da-execucao/.