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Cobrança por Estimativa: Limites e Defesa Judicial

Artigo de Direito
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A Legalidade e os Limites da Cobrança de Serviços Públicos Essenciais por Estimativa de Consumo: Uma Análise Estratégica

O fornecimento de serviços públicos essenciais, como água e energia elétrica, estabelece uma relação jurídica complexa que transita entre o Direito Administrativo e o Direito do Consumidor. Uma das questões mais controvertidas nessa esfera diz respeito à metodologia de faturamento utilizada pelas concessionárias. A regra geral impõe a aferição baseada no consumo real, mensurado por meio de equipamentos técnicos apropriados (hidrômetros ou medidores de energia). No entanto, situações excepcionais levam à aplicação da cobrança por estimativa ou média de consumo.

Para o advogado, compreender não apenas a taxatividade dessas exceções, mas também as armadilhas processuais e probatórias, é vital para evitar sucumbências e garantir a modicidade tarifária devida ao usuário.

A cobrança por estimativa ocorre quando a concessionária, alegando impossibilidade de realizar a leitura, lança na fatura um valor baseado na média dos meses anteriores. Embora prevista em regulamentos como medida paliativa, a utilização sistemática dessa metodologia sem a devida justificativa técnica afronta princípios basilares das relações de consumo.

O Dever de Aferição e a Regulação Setorial Específica

O ordenamento jurídico brasileiro privilegia a cobrança pelo consumo real. Contudo, a atuação do advogado não pode ser genérica. É fundamental dominar as normas específicas das agências reguladoras.

No setor elétrico, por exemplo, a Resolução Normativa nº 1.000/2021 da ANEEL (especificamente nos arts. 255 e seguintes) impõe regras rígidas. A estimativa não pode ser eterna: existem limites de ciclos consecutivos (geralmente até 3 ciclos) para o faturamento pela média. Ultrapassado esse limite sem que a concessionária regularize a medição ou notifique adequadamente o consumidor para franquear o acesso, a cobrança torna-se objetivamente ilegal.

Para atuar com excelência na defesa dos direitos dos usuários, o profissional precisa ir além do CDC e dominar essas nuances regulatórias. Nesse contexto, aprofundar-se através de uma Pós-Graduação em Defesa do Consumidor em Serviços Públicos permite ao advogado identificar com precisão quando uma prática viola a norma administrativa estrita.

O “Calcanhar de Aquiles”: Prova Técnica e o TOI

Um dos maiores erros na advocacia consumerista é confiar cegamente na inversão do ônus da prova. Embora a hipossuficiência técnica do usuário seja evidente, a jurisprudência muitas vezes atribui presunção de legitimidade aos atos da concessionária, especialmente quando amparados por um Termo de Ocorrência de Irregularidade (TOI).

Em ações que questionam a estimativa decorrente de suposto defeito no medidor, a estratégia processual não deve se limitar a pedir a inversão do ônus probatório. O advogado diligente deve requerer a Perícia Técnica Judicial. A discussão sobre a integridade do lacre ou a calibração do aparelho não se resolve apenas com documentos.

Atenção ao risco de perda da prova: É comum que a concessionária troque o medidor e o descarte ou viole a cadeia de custódia antes da perícia judicial. O advogado deve estar atento para requerer medidas cautelares que preservem o equipamento ou, caso a troca já tenha ocorrido, arguir o cerceamento de defesa e a imprestabilidade da prova unilateral produzida pela empresa.

Repetição de Indébito e a Modulação de Efeitos do STJ

Constatada a irregularidade da cobrança por estimativa, surge o direito à devolução dos valores. O parágrafo único do artigo 42 do CDC prevê a devolução em dobro. Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) fixou a tese de que a repetição em dobro independe da prova de má-fé subjetiva (dolo), bastando que a conduta seja contrária à boa-fé objetiva.

Entretanto, há um detalhe crucial que separa o especialista do generalista: a Modulação de Efeitos (EAREsp 676.608/RS). O STJ decidiu que esse entendimento mais benéfico ao consumidor aplica-se apenas às cobranças realizadas após a publicação do acórdão paradigma, em 30/03/2021.

Portanto, para faturas anteriores a essa data, ainda vigora a necessidade de comprovar a má-fé da concessionária para obter a dobra. Ignorar essa modulação na petição inicial pode gerar sucumbência parcial significativa para o advogado.

A Armadilha da Prescrição: 5 ou 10 Anos?

Outro ponto de atenção refere-se aos prazos para reclamar. Afirmar genericamente que a prescrição é decenal é um erro técnico perigoso. A natureza jurídica da prestadora do serviço define o prazo:

  • Concessionárias de Direito Privado e Sociedades de Economia Mista: Aplica-se a regra do Código Civil (art. 205), resultando em prescrição decenal (10 anos).
  • Autarquias Municipais (ex: SAAE, DAE) e Administração Direta: Aplica-se o Decreto nº 20.910/32, que fixa a prescrição em quinquenal (5 anos) contra a Fazenda Pública.

O advogado que ajuíza uma ação contra uma autarquia municipal pedindo restituição de 10 anos será sucumbente em metade do período, arcando com honorários advocatícios sobre a parte improcedente.

Dano Moral: O Limite do “Mero Aborrecimento”

Por fim, a questão indenizatória. Embora a interrupção do serviço (corte) decorrente de dívida estimada gere dano moral in re ipsa (presumido), a mera cobrança indevida, sem suspensão do fornecimento e sem negativação do nome do consumidor nos órgãos de proteção ao crédito, tende a ser tratada pela jurisprudência majoritária como mero aborrecimento.

Prometer indenização por danos morais baseada apenas no erro de faturamento pode frustrar a expectativa do cliente. A estratégia deve focar na repetição do indébito e na obrigação de fazer (regularização da medição), deixando o dano moral para casos onde houve efetiva lesão à personalidade ou desvio produtivo do consumidor.

Para advogados que buscam expandir sua carteira de clientes com segurança técnica, dominar essas distinções é essencial. O domínio da técnica processual separa o generalista do especialista em como advogar no direito do consumidor com alta performance.

Insights sobre o Tema

  • Atenção à Regulação: Verifique sempre se a concessionária ultrapassou o limite de ciclos de faturamento por média previstos na resolução da agência reguladora (ex: Resolução 1.000 ANEEL).
  • Prova Pericial é Soberana: Não confie apenas na inversão do ônus da prova. O pedido de perícia técnica judicial é fundamental para desconstituir o TOI e a medição estimada.
  • Cronologia da Repetição em Dobro: Lembre-se da data de corte do STJ (30/03/2021). Cobranças anteriores exigem prova de má-fé para devolução em dobro; posteriores exigem apenas violação à boa-fé objetiva.
  • Quem é o Réu?: Identifique a natureza jurídica do prestador de serviço para definir se a prescrição é de 5 anos (Autarquias) ou 10 anos (Privadas/Mistas).

Perguntas e Respostas Estratégicas

1. A concessionária pode cobrar pela média se o hidrômetro estiver inacessível?
Sim, mas existem limites. A Resolução da ANEEL, por exemplo, permite a cobrança por média, mas impõe que a concessionária deve notificar o consumidor e buscar alternativas. A cobrança eterna pela média sem tentativa comprovada de regularização é abusiva.

2. O que fazer se a concessionária trocou o medidor antes da perícia?
O advogado deve alegar cerceamento de defesa e prejuízo à prova técnica. Se a concessionária descartou o medidor antigo sem permitir a perícia, a presunção de veracidade do TOI ou da estimativa deve ser afastada, favorecendo o consumidor.

3. Cabe dano moral apenas pela fatura vir com valor estimado errado?
Dificilmente. A jurisprudência tende a considerar isso como “mero aborrecimento”, salvo se o advogado comprovar o Desvio Produtivo do Consumidor (perda excessiva de tempo vital para resolver o problema administrativo).

4. Qual o prazo para pedir a devolução dos valores?
Depende. Se for contra uma empresa privada (ex: Enel, Sabesp – sociedade de economia mista), são 10 anos. Se for contra um SAAE ou DAE (Autarquia Municipal), são apenas 5 anos.

5. A devolução em dobro é automática?
Para faturas pagas após 30/03/2021, sim, desde que a cobrança seja indevida e contrária à boa-fé objetiva (não requer dolo). Para faturas anteriores, é necessário provar a má-fé da concessionária.

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Acesse a lei relacionada em Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007

Este artigo teve a curadoria da equipe da Legale Educacional e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir do seu conteúdo original disponível em https://www.conjur.com.br/2025-dez-12/tj-sc-valida-cobranca-de-conta-de-agua-por-estimativa-de-consumo/.

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