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Fraude no Estágio: Reconhecimento de Vínculo Trabalhista

Artigo de Direito
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Introdução: O Instituto do Estágio sob o Crivo da Realidade Forense

O Direito do Trabalho brasileiro opera sob alicerces protetivos que visam equilibrar a disparidade econômica entre capital e trabalho. Um dos temas mais recorrentes e sensíveis na advocacia trabalhista é a distinção técnica entre o contrato de estágio e o vínculo empregatício clássico. Embora ambos envolvam a prestação de serviços por uma pessoa física a uma tomadora, suas naturezas jurídicas são diametralmente opostas: o estágio é um ato educativo escolar supervisionado, enquanto o emprego é uma relação de trabalho subordinado com fins econômicos diretos.

Contudo, a análise binária e simplista da lei muitas vezes não sobrevive ao crivo do judiciário moderno. Para o advogado que atua na área, compreender as nuances que separam a supervisão pedagógica da subordinação jurídica é essencial. É necessário ir além da letra fria da lei e entender como os Tribunais aplicam o Princípio da Primazia da Realidade e o Princípio da Instrumentalidade das Formas na descaracterização dessa relação.

Requisitos Legais, Instrumentalidade das Formas e o “Ratio” de Supervisão

A Lei nº 11.788/2008 estabelece requisitos cumulativos para a validade do estágio: matrícula regular, celebração do Termo de Compromisso de Estágio (TCE), compatibilidade de atividades e supervisão. A ausência desses elementos sugere fraude, mas a advocacia de excelência exige um olhar mais apurado.

Há uma tendência jurisprudencial que aplica o princípio da razoabilidade. Irregularidades meramente formais — como um atraso pontual na renovação do seguro de vida ou a entrega extemporânea de um relatório — nem sempre geram o reconhecimento automático do vínculo, caso a finalidade pedagógica material esteja preservada. O advogado de defesa deve explorar essa tese, enquanto o reclamante deve focar na ausência de substância educativa.

Um ponto frequentemente negligenciado, mas letal para a defesa das empresas em grandes fraudes (como em call centers), é o requisito objetivo do artigo 9º, inciso V, da Lei de Estágio. A lei limita o número de estagiários a 10 (dez) para cada supervisor. Se um único funcionário “assina” a supervisão de 20 ou 30 estagiários, a fraude é presumida pela impossibilidade física e material de acompanhamento pedagógico real.

A Nova Fronteira da Fraude: Estágio em Home Office e a “Pejotização” via Pós-Graduação

O cenário trabalhista evoluiu, e as fraudes também. O texto legal de 2008 não previu a explosão do teletrabalho. Hoje, a supervisão pedagógica no Home Office é o grande campo de batalha probatório.

  • O desafio da supervisão remota: Estagiários logados por 8 ou 10 horas em sistemas da empresa, recebendo demandas por algoritmos ou mensagens instantâneas sem qualquer interação formativa com um mentor, estão em clara situação de vínculo empregatício. A prova aqui se faz por logs de sistema, e-mails e conversas de WhatsApp que demonstram cobrança de metas em detrimento do aprendizado.

Outro vetor de fraude sofisticada é o “Estagiário de Pós-Graduação”. Não se trata mais apenas do estudante universitário servindo café, mas de profissionais graduados, experientes, matriculados em pós-graduações pro forma apenas para serem contratados como estagiários. Escritórios de advocacia e consultorias utilizam esse expediente para mascarar a contratação de advogados plenos ou analistas seniores, fraudando o fisco e a previdência. Nesse caso, a prova da autonomia técnica do suposto estagiário derruba a tese do aprendizado.

Estratégia Processual: O Ônus da Prova e a Responsabilidade da Instituição de Ensino

No contencioso trabalhista, a distribuição do ônus da prova define o jogo. Ao admitir a prestação de serviços, mas alegar a relação de estágio (fato impeditivo do vínculo), a empresa atrai para si o ônus de provar o cumprimento rigoroso da Lei 11.788/2008.

Quanto à responsabilidade solidária da Instituição de Ensino (IE), o advogado deve ter visão estratégica. Embora a lei preveja a responsabilidade da IE por zelar pela adequação pedagógica, incluí-la no polo passivo da Reclamação Trabalhista pode ser um “tiro no pé”. Muitos juízes declinam da competência quanto à relação cível (aluno-faculdade), tumultuando o processo e atrasando a entrega da prestação jurisdicional. O foco tático deve ser, primordialmente, o reconhecimento do vínculo com a tomadora de serviços.

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Consequências Econômicas: Do Recesso às Férias + 1/3

Quando a fraude é reconhecida e o vínculo declarado, a “bolsa-auxílio” é convertida em salário para todos os fins. As consequências financeiras são severas e possuem efeito ex tunc (retroativo).

É crucial, tecnicamente, diferenciar os institutos: o estagiário regular tem direito ao recesso remunerado (30 dias), sem o acréscimo do terço constitucional. Com o reconhecimento da fraude, esse período transmuta-se juridicamente em férias, exigindo o pagamento imediato do terço constitucional e, muitas vezes, a dobra das férias se o período concessivo já tiver expirado.

Além disso, a condenação abarca:

  • Aviso prévio e 13º salários;
  • FGTS de todo o período + multa de 40%;
  • Recolhimentos previdenciários (cota patronal e empregado) com juros e multas;
  • Benefícios normativos (vale-refeição, PLR, pisos salariais da categoria).

O passivo oculto de um estagiário irregular pode custar à empresa muito mais do que a economia tributária que se buscou inicialmente.

Conclusão

A fronteira entre o estágio e o emprego, embora tênue na teoria, torna-se clara diante da análise fática da rotina de trabalho. Para as empresas, o compliance trabalhista não deve ser apenas documental, mas procedimental, garantindo que supervisores tenham tempo e qualificação para ensinar. Para o advogado do trabalhador, o sucesso da demanda reside em demonstrar que a força de trabalho foi explorada sem a contrapartida educacional, utilizando-se das ferramentas modernas de prova digital e da compreensão das novas dinâmicas de mercado, como o teletrabalho e a pós-graduação.

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Acesse a lei relacionada em Lei nº 11.788, de 25 de Setembro de 2008

Este artigo teve a curadoria da equipe da Legale Educacional e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir do seu conteúdo original disponível em https://www.conjur.com.br/2025-dez-09/trt-18-afasta-assedio-mas-confirma-vinculo-empregaticio-por-fraude-em-estagio/.

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