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Responsabilidade em Eventos: O Risco da Terceirização

Artigo de Direito
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A Responsabilidade Civil e Solidariedade na Terceirização de Serviços em Eventos de Entretenimento

A dinâmica econômica atual favorece a descentralização das atividades empresariais, especialmente no setor de entretenimento e organização de eventos. É comum que grandes realizadoras optem pela terceirização de serviços essenciais, como segurança, limpeza e controle de acesso, visando otimizar custos e especializar a mão de obra. No entanto, essa fragmentação operacional não resulta em fragmentação da responsabilidade jurídica perante o consumidor final. O ordenamento jurídico brasileiro, notadamente através do Código de Defesa do Consumidor (CDC), estabelece diretrizes rigorosas para garantir que a proteção do vulnerável não seja diluída por contratos interempresariais.

A compreensão da responsabilidade civil decorrente de atos praticados por terceirizados exige uma análise profunda da Teoria do Risco do Empreendimento. Quando uma empresa se propõe a realizar um evento de grande porte, ela assume não apenas os bônus do lucro, mas também os riscos inerentes àquela atividade. A segurança do público é considerada uma obrigação de resultado. Isso significa que a ocorrência de um dano à integridade física de um participante dentro do ambiente controlado pela organizadora atrai o dever de indenizar, independentemente da demonstração de culpa direta dos gestores da empresa contratante.

Responsabilidade Objetiva e o Fortuito Interno

O artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor é a pedra angular para a análise deste tema, consagrando a responsabilidade objetiva do fornecedor. Contudo, para o advogado especialista, a chave interpretativa reside na distinção entre fortuito interno e externo.

Agressões cometidas por seguranças, ainda que terceirizados, não configuram “fato de terceiro” (fortuito externo) capaz de romper o nexo causal. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) é firme no sentido de que a falha na segurança constitui fortuito interno, pois é um risco intrínseco à atividade de promoção de eventos. Quem lucra com a aglomeração de pessoas deve garantir sua incolumidade. Portanto, alegar que o vigilante “agiu por conta própria” ou “excedeu suas funções” é uma tese de defesa ineficaz frente à natureza objetiva do risco assumido.

A Solidariedade Passiva e a “Teoria do Bolso Profundo”

A solidariedade passiva entre a empresa contratante (tomadora) e a terceirizada (prestadora) é garantida pelos artigos 7º, parágrafo único, e 25, § 1º, do CDC. Isso cria uma cadeia de responsabilidade que blinda o consumidor.

Do ponto de vista estratégico processual, essa solidariedade é vital na fase de cumprimento de sentença. Frequentemente, empresas de segurança terceirizadas possuem capital social reduzido ou alta rotatividade, dificultando a execução. A solidariedade permite que o advogado do consumidor aplique o que a doutrina econômica chama de Deep Pocket Theory (Teoria do Bolso Profundo), direcionando a execução contra a organizadora do evento, que presumivelmente possui maior solidez patrimonial para satisfazer o crédito indenizatório.

A Teoria da Aparência e o Preposto Fático

A legitimidade da organizadora é reforçada pela Teoria da Aparência. Para o consumidor médio, a equipe de segurança uniformizada representa a própria organização do evento. O princípio da confiança legítima impede que a produtora utilize a terceirização como escudo.

Além disso, a interpretação do artigo 34 do CDC sobre a responsabilidade pelos atos de prepostos é ampla. Juridicamente, o conceito de “preposto” na esfera consumerista independe de vínculo trabalhista. É irrelevante juntar aos autos a Carteira de Trabalho (CTPS) do agressor para provar que ele não é funcionário da organizadora. Se ele estava a serviço do evento, a preposição fática está caracterizada, atraindo a responsabilidade solidária.

A Vedação à Denunciação da Lide (Art. 88 do CDC)

Um ponto crítico que exige atenção técnica redobrada dos advogados é a estratégia de defesa quanto à intervenção de terceiros. Diferente do Processo Civil comum, nas relações de consumo, o artigo 88 do CDC veda expressamente a denunciação da lide.

Isso significa que a organizadora do evento não deve tentar trazer a empresa terceirizada para o polo passivo da ação consumerista para discutir culpa contratual, pois isso tumultuaria o processo e retardaria a tutela do consumidor. A estratégia processual correta não é insistir na denunciação (que será indeferida), mas sim preparar a documentação para a futura ação de regresso. O foco da defesa na lide principal deve ser a descaracterização do defeito do serviço ou a prova de culpa exclusiva da vítima, e não a transferência de responsabilidade para o parceiro comercial.

Danos Morais: Entre o In Re Ipsa e o Mero Aborrecimento

Embora a violação à integridade física gere, via de regra, danos morais in re ipsa (presumidos), o advogado deve ter cautela na qualificação dos fatos. Nem toda abordagem de segurança gera dever de indenizar.

  • Agressão Física: Gera dano moral presumido e, a depender da gravidade, danos estéticos (que são cumuláveis, conforme Súmula 387 do STJ).
  • Abordagem Ríspida: Se não houver contato físico ou humilhação pública evidente, tribunais podem classificar o fato como “mero aborrecimento”. A instrução probatória com testemunhas e vídeos é essencial para demonstrar que a conduta ultrapassou o limite do aceitável, configurando falha na prestação do serviço.

Para aprofundar-se nas nuances que separam o mero dissabor do dano indenizável, recomenda-se o estudo contínuo através de cursos como Como Advogar no Direito do Consumidor.

Direito de Regresso: A Batalha Posterior

A relação entre as empresas (organizadora e terceirizada) deve ser resolvida em via de regresso, geralmente após a condenação e pagamento ao consumidor. Nesta etapa autônoma, a responsabilidade deixa de ser objetiva (baseada no CDC) e passa a ser regida pelo Código Civil e pelo contrato firmado entre as partes.

Aqui, a discussão sobre culpa (*culpa in eligendo* ou *in vigilando*) e cláusulas de indenidade ganha relevância. A gestão jurídica eficiente de uma produtora de eventos envolve a redação de contratos de terceirização robustos, que facilitem essa recuperação de crédito no futuro, sem, contudo, criar obstáculos para o consumidor no presente.

Conclusão

A terceirização em eventos não opera como um filtro de impunidade civil; pelo contrário, ela amplia o espectro de garantia para o consumidor através da solidariedade. Para a advocacia, o domínio sobre a vedação da denunciação da lide e a correta aplicação da teoria do fortuito interno são diferenciais que separam uma defesa genérica de uma estratégia processual de excelência.

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Acesse a lei relacionada em Código de Defesa do Consumidor

Este artigo teve a curadoria da equipe da Legale Educacional e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir do seu conteúdo original disponível em https://www.conjur.com.br/2025-dez-04/produtora-de-show-responde-por-agressao-cometida-por-seguranca-terceirizado/.

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