Litigância de Má-Fé no Processo Civil: Fundamentos, Consequências e Estratégias de Atuação
O instituto da litigância de má-fé é central para o funcionamento ético e eficiente do processo judicial brasileiro, especialmente nas demandas de execução. Compreender sua natureza, fundamentos legais, efeitos práticos e desdobramentos jurisprudenciais é indispensável para qualquer operador do Direito que atue no contencioso cível.
A seguir, aprofunda-se a análise desse tema essencial para a prática advocatícia contemporânea.
O que é Litigância de Má-Fé?
A litigância de má-fé refere-se à conduta processual desleal, desonesta ou de abuso de direito processual das partes ou de seus procuradores durante a tramitação do processo judicial. Este conceito possui previsão no Código de Processo Civil (CPC), sendo fortemente rechaçado pelo ordenamento jurídico pátrio, que busca garantir o contraditório, a ampla defesa e a efetividade da jurisdição.
O objetivo da vedação à litigância de má-fé não é apenas proteger a parte oposta, mas também preservar a integridade do Judiciário, prevenindo sobrecarga de demandas infundadas e garantindo credibilidade ao sistema de justiça.
Previsão Legal
A principal base normativa encontra-se nos artigos 79 a 81 do CPC/2015. O artigo 80 elenca as hipóteses representativas do que se considera litigância de má-fé, enquanto os artigos 81 e 82 regulam as penalidades e a legitimidade ativa para apuração do comportamento abusivo.
Entre as condutas típicas de litigante de má-fé, destacam-se:
Alterar a verdade dos fatos
Utilizar o processo para fins manifestamente ilegais
Prolongar deliberadamente o andamento do feito
Praticar atos atentatórios à dignidade da justiça
Litigância de Má-Fé em Ações de Execução
No contexto das ações de execução, a litigância de má-fé ganha contornos específicos e, muitas vezes, danos mais incisivos. É comum observar a utilização de expedientes procrastinatórios por devedores ou, por outro lado, postulações executivas excessivas pelos exequentes.
O artigo 774 do CPC dispõe sobre atos atentatórios à dignidade da justiça especificamente no cumprimento de sentença e nos processos de execução, reforçando o dever de lealdade processual.
Exemplos Práticos de Litigância de Má-Fé
A litigância de má-fé pode se materializar de diversas maneiras, com variações conforme o papel da parte e o tipo de processo. Alguns exemplos práticos incluem:
Apresentação de embargos à execução claramente protelatórios ou com fundamentos sabidamente inverídicos.
Omissão dolosa de informações relevantes capazes de reverter a execução.
Alegações contraditórias, com alteração deliberada dos fatos apresentados em momentos distintos do processo.
Requerimentos e recursos sucessivos e infundados para retardar a satisfação do crédito.
É importante distinguir litigância de má-fé de simples erro processual ou má técnica processual. O elemento volitivo ou, ao menos, culposo deve estar presente, demonstrando a intenção consciente da parte em fraudar, atrasar ou tumultuar o processo.
Sanções Aplicáveis ao Litigante de Má-Fé
O CPC estabelece um regime de punição rigoroso para coibir comportamentos desleais ou abusivos no processo judicial. Destacam-se como principais sanções:
Condenação ao Pagamento de Multa
O artigo 81 do CPC determina a aplicação de multa em favor da parte contrária. Essa penalidade pode variar entre 1% e 10% do valor da causa, segundo a gravidade da conduta e a capacidade econômica do litigante.
Indenização pelos Danos Processuais
Além da multa, pode o litigante de má-fé ser condenado a indenizar a parte adversa pelos prejuízos materiais e morais sofridos em decorrência do comportamento ilícito, conforme artigo 81, § 3º.
Honorários Advocatícios Suplementares
Em casos de litigância de má-fé, é admitida a fixação de honorários advocatícios suplementares em favor do profissional da parte prejudicada, em razão do agravamento da atividade processual.
Atos Atentatórios à Dignidade da Justiça x Litigância de Má-Fé
É fundamental distinguir as consequências da litigância de má-fé das decorrentes de atos atentatórios à dignidade da justiça. Os primeiros afetam a parte adversa de forma direta, enquanto os segundos atentam contra a estrutura do próprio Judiciário e são puníveis inclusive com multas revertidas em favor da União.
No contexto das execuções de título judicial (cumprimento de sentença) e de título extrajudicial, o artigo 774 do CPC prevê, por exemplo, a apresentação de recurso manifestamente protelatório, recusa injustificada ao pagamento e resistência injustificada ao cumprimento de ordem judicial.
Meios de Defesa contra Acusações de Litigância de Má-Fé
A acusação de má-fé processual é grave e pode acarretar sérios prejuízos à reputação do advogado e à parte representada. Por isso, sempre que houver imputação dessa natureza, é essencial:
Demonstrar a boa-fé objetiva da conduta, esclarecendo eventuais dúvidas sobre fatos e fundamentos jurídicos.
Apresentar explicações técnicas para eventuais equívocos, diferenciado erro processual de intento doloso ou abuso do direito de defesa.
Elaborar memoriais e manifestações detalhadas refutando cada capítulo da imputação de má-fé.
Esse cuidado, associado à atuação cautelosa, diminui riscos e reforça a postura ética do profissional.
Deveres Éticos do Advogado e o Papel da Boa-fé Processual
A atuação do advogado está submetida às normas do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/94) e ao Código de Ética e Disciplina da OAB. Agir com lealdade e boa-fé processual é obrigação inerente à profissão, e a configuração de litigância de má-fé pode gerar repercussões disciplinares, inclusive com possibilidades de representação junto à OAB.
A compreensão aprofundada do instituto, bem como sua devida contextualização no cenário do processo civil contemporâneo, é imprescindível—especialmente para advogados atuantes no contencioso, em especial em execuções judiciais ou extrajudiciais.
Para aqueles que desejam se aprofundar e dominar os meandros do processo civil, uma formação robusta e atualizada é fator de diferenciação. Procurar por cursos avançados, como a Pós-Graduação em Direito Civil e Processual Civil, torna-se uma estratégia essencial para o advogado que almeja excelência prática e teórica.
Litigância de Má-Fé e Jurisprudência: Tendências e Entendimentos Recentes
O posicionamento dos tribunais superiores revela o compromisso crescente com a moralização do processo e a intolerância ao abuso do direito de defesa ou à atuação protelatória.
Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e dos tribunais estaduais tem ratificado a aplicação rigorosa das penalidades, inclusive na majoração de multas e na condenação de litigantes de má-fé a arcarem com honorários e indenizações substanciais.
Contudo, há também precedentes que relativizam a condenação quando ausente, de forma inequívoca, o elemento volitivo danoso. Isso demonstra a necessidade de análise casuística e fundamentação detalhada pelo julgador para evitar a punição injusta de partes e advogados.
Estratégias para Prevenir e Combater a Litigância de Má-Fé
Prevenir acusações e evitar a responsabilização por má-fé demanda cautela redobrada dos advogados:
Revisão permanente das teses expostas nas peças, conferindo correspondência fática e documental.
Evitar requerimentos meramente protelatórios ou recursos infundados, esclarecendo quando a interposição do recurso possui embasamento jurídico plausível.
Instrução adequada do cliente quanto aos limites do direito de defesa e deveres vinculados à ética processual.
Estudo constante de casos concretos, tendências jurisprudenciais e das próprias alterações legislativas, traçando o perfil dos julgados que consideram condutas como atentatórias à boa-fé processual.
Em suma, a qualificação contínua é premissa fundamental para a atuação preventiva e segura.
Considerações Finais
A litigância de má-fé transcende o simples erro processual, constituindo conduta reprovável com sérias consequências jurídicas, financeiras e reputacionais para as partes e seus advogados. O aprofundamento teórico e prático sobre o tema é não apenas recomendável, mas imprescindível para a advocacia litigiosa moderna.
Saber identificar, evitar e, se necessário, sustentar a acusação ou defesa em casos do gênero depende de atualização constante e domínio técnico, ambos plenamente possíveis com uma formação de excelência.
Quer dominar a temática da litigância de má-fé, execução e demais práticas do contencioso cível? Conheça nossa Pós-Graduação em Direito Civil e Processual Civil e transforme sua atuação jurídica.
Principais Insights
A litigância de má-fé é grave e pode resultar em sanções pecuniárias relevantes e implicações disciplinares para o advogado.
As hipóteses estão detalhadas principalmente nos artigos 80 e 81 do CPC/2015; conduta dolosa ou, ao menos, culposa, é elemento essencial.
No contexto das execuções judiciais, a vigilância contra atos protelatórios é ainda mais rigorosa, cabendo atenção redobrada às postulações e defesas.
A distinção entre litigância de má-fé e atos atentatórios à dignidade da justiça é relevante para se precisar as consequências e recursos cabíveis.
A capacitação técnica constante, por meio de pós-graduações e estudos especializados, é indispensável para atuação ética, segura e diferenciada em processos judiciais.
Perguntas e Respostas
1. O que diferencia a litigância de má-fé de um equívoco processual comum?
Litigância de má-fé pressupõe conduta desleal, com intenção deliberada de prejudicar o adversário ou o Judiciário, enquanto o equívoco processual é um erro sem intenção dolosa ou abusiva.
2. Quais são as principais consequências para quem é condenado por litigância de má-fé?
O litigante pode ser condenado ao pagamento de multa (1-10% do valor da causa), indenização por danos processuais e honorários advocatícios suplementares.
3. Litigância de má-fé pode ser punida de ofício pelo juiz?
Sim, o juiz pode aplicar as sanções de ofício, independentemente de requerimento, sempre que constatar a prática de ato de má-fé.
4. Como se defender de uma acusação de litigância de má-fé?
Demonstre a boa-fé objetiva da conduta, esclareça dúvidas sobre fatos ou argumentos, e diferencie eventual erro técnico processual da intenção de prejudicar o processo ou adversário.
5. A condenação por litigância de má-fé pode ser discutida em grau recursal?
Sim, a parte pode recorrer da decisão que a condenou por litigância de má-fé, desde que fundamente adequadamente as razões pelas quais entende não ser devida a punição.
Aprofunde seu conhecimento sobre o assunto na Wikipedia.
Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
Este artigo teve a curadoria da equipe da Legale Educacional e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir do seu conteúdo original disponível em https://www.conjur.com.br/2025-ago-25/juiz-multa-construtora-por-litigancia-de-ma-fe-em-acao-de-execucao/.