Inteligência Artificial e o Poder Público: O Novo Desafio do Direito Administrativo
O emprego de Inteligência Artificial (IA) nos Poderes Públicos irrompe como uma das questões mais prementes para o Direito Administrativo contemporâneo. O uso dessas tecnologias para automatizar, otimizar ou mesmo tomar decisões administrativas exige uma reinterpretação de princípios tradicionais, traz riscos inéditos e desafia a atuação dos profissionais do Direito. Dominar esse cenário é essencial para quem atua ou pretende atuar com o Direito Administrativo, licitações, contratos públicos e o controle judicial ou social da Administração.
O Marco Regulatório da Inteligência Artificial na Administração Pública
O Brasil ainda não possui uma lei específica sobre Inteligência Artificial, mas há projetos em tramitação no Congresso (PL 21/2020, PL 2338/2023). Enquanto isso, aplicam-se, de forma subsidiária, a Constituição Federal, especialmente os artigos 5º (princípios da legalidade, publicidade e eficiência), 37 (princípios da Administração Pública) e 41 (acesso à informação), bem como a Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011) e a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018).
Ao tratar da adoção de IA pelo Poder Executivo, é imprescindível observar o respeito ao princípio da legalidade, vedando decisões automatizadas que não estejam lastreadas e previamente autorizadas por lei. A discussão sobre IA na administração exige atualização constante do operador do direito, dada a potencialidade de impacto das decisões automatizadas na vida dos cidadãos e dos administrados.
Legalidade e a Delegação de Competências para Sistemas Automatizados
A atuação da IA na Administração Pública não pode violar o postulado da legalidade estrita (art. 37, caput, CF): só pode o Poder Público fazer aquilo que a lei expressamente autoriza. Sistemas inteligentes que substituem ou coadjuvam servidores, seja em análise de processos, serviço ao cidadão ou elaboração de políticas públicas, devem respeitar essa limitação.
Além disso, toda e qualquer delegação de poder decisório para uma IA exige previsão legal clara e mecanismos transparentes de supervisão humana. Não se trata apenas de quem decide, mas de como se pode fiscalizar, auditar ou contestar decisões tecnicamente complexas ou algorítmicas.
Transparência, Controle e Devida Motivação dos Atos Administrativos Automatizados
Decisões administrativas são, por essência, vinculadas à necessidade de motivação e publicidade (art. 37, CF). O uso de IA eleva o debate para um novo patamar: como garantir que decisões automatizadas sejam compreensíveis, auditáveis e passíveis de controle social e judicial?
O chamado “direito à explicação” (art. 20, LGPD) se tornou central. O administrado tem direito de saber, de modo claro, como e com base em quais critérios uma decisão administrativa foi tomada, sobretudo se envolve IA. Os órgãos públicos precisam documentar bem seus modelos, garantir inferências compreensíveis e prever revisões humanas em decisões automáticas sensíveis.
Frente a esses desafios, a capacitação em Direito Digital e Administrativo emerge como uma demanda urgente para práticas modernas de advocacia, seja em assessoria a entes públicos, controle social ou atuação judicial. Uma base robusta pode ser adquirida em cursos como a Pós-Graduação em Direito Digital, que prepara profissionais para entender as nuances jurídicas da era algorítmica.
Responsabilidade Civil e Administrativa por Decisões Algorítmicas
Outro aspecto sofisticado do uso de inteligência artificial pelo Poder Executivo reside na responsabilização por danos decorrentes de decisões automatizadas. O Estado responde objetivamente pelos atos de seus agentes (art. 37, § 6º, CF), e, por extensão, por atos produzidos por sistemas de IA integrados às rotinas públicas.
Se um algoritmo conceder, negar um benefício, aplicar uma sanção ou promover seleção de candidatos com vícios, a Administração poderá ser chamada a responder judicialmente. Nesses casos, o controle do nexo causal e da previsibilidade dos riscos gerados pela automação é extraordinariamente técnico e demanda provas periciais, auditorias e o domínio do funcionamento do sistema.
A discussão sobre responsabilidade não se restringe ao Estado. Fornecedores e desenvolvedores de IA que contratam com entes públicos devem atentar para cláusulas contratuais de responsabilidade, garantia de conformidade legal e planos de governança algorítmica. A atuação consultiva, preventiva e contenciosa dos advogados nesse ambiente exige não só atualização contínua, mas também especialização prática e teórica.
Proteção de Dados e Direitos Fundamentais
Os dados são o insumo fundamental da IA, e o seu tratamento seguro é garantido pela LGPD. O uso de IA pelo Estado, sobretudo quando envolve tratamento de grandes bases de dados pessoais, impõe o respeito aos princípios da finalidade, necessidade, minimização e segurança. A administração precisa nomear encarregados, elaborar relatórios de impacto e adotar salvaguardas técnicas compatíveis.
A proteção contra decisões discriminatórias, enviesadas ou não auditáveis também decorre da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), que exige a motivação adequada dos atos públicos e a ponderação de direitos fundamentais potencialmente afetados.
Aprofundar-se nesses temas é fundamental — não apenas para reduzir riscos, mas para aprimorar a governança digital e assegurar a atuação ética do Estado. Profissionais interessados podem se beneficiar do aprendizado detalhado e prático ofertado na Pós-Graduação em Direito Digital, essencial para profissionais que almejam se posicionar na vanguarda do direito público na era digital.
IA, Licitações e Inovação Administrativa
A contratação de inteligência artificial pelo Poder Público ocorre, via de regra, via processos licitatórios (Lei 14.133/2021). O legislador evidenciou a busca por inovação e governança digital, mas impôs, também, a necessidade de cláusulas de segurança jurídica, privacidade, governança tecnológica e responsabilização. A modalidade Diálogo Competitivo, por exemplo, facilita a contratação de soluções inovadoras e demanda profundo conhecimento do advogado sobre riscos contratuais e compliance regulatório.
Além disso, a administração de contratos de prestação de serviços de inteligência artificial requer do operador do direito habilidades adicionais em monitoramento de execução contratual, avaliação de entregáveis, reporte de incidentes e verificação da conformidade dos softwares/sistemas utilizados. Esse é um segmento em expansão que oferece vastas oportunidades para advogados públicos, privados e servidores.
Judicialização e Controle Externo da IA Pública
A atuação de controle da atividade administrativa permanece relevante. Tribunais, Ministérios Públicos e órgãos de controle precisam enfrentar questões inéditas, como: limites das decisões automatizadas, obrigação de revisão humana, parâmetros para produção e disponibilização de explicações técnicas e a ponderação entre eficiência e garantias fundamentais.
Decisões judiciais recentes já sinalizam que a ausência de transparência, revisão humana ou respeito aos direitos do administrado podem ensejar a nulidade de decisões administrativas automatizadas. O operador do direito precisa se munir de instrumentos teóricos e práticos para atuar em processos de controle, impugnação e fiscalização do uso estatal de inteligência artificial.
Desafios Éticos e Governance de Inteligência Artificial no Direito Público
Por fim, a discussão ultrapassa a seara estritamente normativa. A ética na adoção de IA pelo setor público compreende o dever de cautela na introdução de tecnologias suscetíveis a discriminação algorítmica, a criação de comitês de ética digital, o estímulo ao controle participativo e a regulação do ciclo de vida dos sistemas automatizados.
A governança algorítmica se impõe como área de conhecimento interdisciplinar, exigindo atuação conjunta de advogados, profissionais de tecnologia, gestores públicos e representantes da sociedade civil. É fundamental o profissional do direito se atualizar e capacitar para atuar nesse novo ambiente — tanto para proteger direitos, quanto para viabilizar inovação responsável no setor público.
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Insights Finais
O avanço da inteligência artificial no Poder Executivo inaugura uma nova era para o Direito Administrativo. Temas como legalidade, responsabilidade, proteção de dados e governança computacional se tornam centrais. O conhecimento jurídico tradicional já não basta; é preciso atualizar-se, especializar-se e desenvolver habilidades interdisciplinares.
O profissional que desejar navegar com segurança nos desafios contemporâneos do direito público deve investir em formação sólida, atualização legislativa e, sobretudo, comprometimento ético com a defesa dos direitos fundamentais em ambiente digital.
Perguntas e Respostas Frequentes
1. A Administração Pública pode decidir automaticamente questões que impliquem restrição de direitos?
Via de regra, decisões que causem restrição de direitos ou tenham impacto relevante na esfera dos administrados exigem motivação e possibilidade de contraditório, sendo recomendável a revisão humana nessas hipóteses, sob pena de nulidade.
2. Como se fiscaliza uma decisão administrativa tomada por algoritmo?
É necessário exigir transparência nos critérios adotados, documentação técnica acessível, logs de decisões e, quando possível, auditorias independentes. O direito à explicação, previsto na LGPD, é fundamental nesse processo.
3. O que ocorre em caso de erro ou dano causado por IA pública?
O Estado responde objetivamente, conforme art. 37, §6º da Constituição, podendo, em situações específicas, acionar regressivamente o fornecedor ou responsável técnico pelo sistema.
4. Quais leis atualmente abordam, mesmo que indiretamente, o uso de IA no setor público?
A Constituição Federal, a Lei de Acesso à Informação, a Lei Geral de Proteção de Dados e a Nova Lei de Licitações são os principais instrumentos aplicáveis à matéria, até que se aprove legislação específica.
5. Quais competências são essenciais para o advogado que deseja atuar com direito público e IA?
É fundamental compreender fundamentos de direito administrativo, proteção de dados, contratos públicos, tecnologia da informação, além de atualizar-se por meio de especializações, como a Pós-Graduação em Direito Digital.
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Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Este artigo teve a curadoria da equipe da Legale Educacional e foi escrito utilizando inteligência artificial a partir do seu conteúdo original disponível em https://www.conjur.com.br/2025-ago-30/inteligencia-artificial-no-centro-do-poder-executivo-licoes-da-albania/.