Indignidade é um instituto do direito sucessório que tem como principal consequência a exclusão de herdeiros da participação na herança em razão de condutas consideradas gravemente reprováveis contra o autor da herança, contra seus familiares ou contra a própria dignidade da pessoa humana. Esse instituto se fundamenta no princípio da moralidade e da justiça no âmbito das relações familiares, promovendo a coesão ética nas relações sucessórias. Prevista no Código Civil brasileiro, a indignidade visa assegurar que somente aqueles que mantiveram um comportamento digno em relação ao falecido possam ser chamados à sucessão, sejam eles herdeiros legítimos ou testamentários.
A indignidade não ocorre automaticamente. É necessário que alguém interessado, geralmente outro herdeiro ou o Ministério Público quando existirem interesses de incapazes, proponha uma ação judicial específica para sua decretação, chamada de ação de exclusão por indignidade. Esse processo deve ser iniciado no prazo de quatro anos a contar da abertura da sucessão. Sendo julgada procedente a ação, o herdeiro indigno tem sua vocação hereditária cancelada, com efeitos ex tunc, ou seja, retroativos à data de abertura da sucessão, como se nunca tivesse tido direito à herança.
Entre os atos que podem ensejar a exclusão por indignidade estão os previstos no artigo 1.814 do Código Civil, como por exemplo, quem houver sido condenado por homicídio doloso ou tentativa de homicídio contra o autor da herança, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente. Também são causas de indignidade a calúnia ou denúncia falsa contra o autor da herança por crime sujeito à pena de reclusão, desde que comprovada judicialmente a falsidade e a responsabilidade do agente, bem como violência ou grave ameaça contra o testador que vise impedir ou dificultar sua liberdade de testar. Além disso, pode-se caracterizar a indignidade quando há destruição, ocultação ou falsificação de testamento, com propósito doloso de obter vantagem.
O reconhecimento da indignidade tem como implicação, além da perda da herança ou legado, a obrigação de o herdeiro indigno devolver todos os bens que eventualmente tenha recebido e os frutos ou rendimentos percebidos desde a abertura da sucessão. No entanto, protege-se a boa-fé de terceiros adquirentes de bens, assim como os alimentos percebidos pelo indigno, desde que demonstrada a necessidade e a utilização dos bens para a própria subsistência.
Cabe destacar que o autor da herança pode perdoar o indigno, desde que esse perdão seja expresso em testamento ou codicilo. Essa manifestação de vontade exclui a possibilidade de decretação judicial da indignidade. O perdão representa, portanto, um direito personalíssimo do testador que prevalece sobre o juízo moral e ético dos demais herdeiros, exigindo forma solene para sua eficácia jurídica.
Por fim, a indignidade deve ser entendida como uma sanção de natureza civil com fundamento ético e jurídico, que busca garantir a justiça na transmissão dos bens do falecido. Ao afastar da sucessão aquele que agiu de forma indigna, o ordenamento jurídico protege valores fundamentais como o respeito, a integridade e a solidariedade familiar, pilares essenciais do direito das sucessões.