Como funciona o sistema proporcional nas eleições brasileiras?
O sistema eleitoral brasileiro é baseado em diferentes regras para a escolha de representantes do Poder Legislativo e Executivo. No caso do Legislativo, há dois principais modelos de votação: o sistema majoritário, utilizado para cargos do Executivo e para o Senado, e o sistema proporcional, aplicado para a eleição de deputados federais, estaduais, distritais e vereadores. O sistema proporcional tem como objetivo garantir a representação política de forma mais equilibrada, contemplando a diversidade social e ideológica do país. Neste artigo, explicamos como funciona esse modelo e quais são seus impactos no cenário político brasileiro.
O que é o sistema proporcional?
O sistema proporcional é uma metodologia de eleição utilizada no Brasil para a escolha de parlamentares em nível federal, estadual e municipal. Diferente do sistema majoritário, no qual vence o candidato que obtém a maioria absoluta ou simples dos votos, o sistema proporcional distribui as cadeiras legislativas de acordo com a votação recebida pelos partidos ou federações partidárias.
Por meio desse mecanismo, busca-se assegurar que a representatividade na Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas, Câmara Distrital e Câmaras Municipais seja proporcional ao apoio que cada partido teve no pleito. Assim, em vez de considerar apenas os votos individuais, leva-se em conta o desempenho total de um partido para definir quantos parlamentares ele poderá eleger.
O quociente eleitoral: como ele determina as vagas?
O primeiro passo para distribuir as cadeiras pelo sistema proporcional é calcular o quociente eleitoral. Esse índice é obtido pela divisão do total de votos válidos na eleição pelo número de cadeiras disponíveis no legislativo.
A fórmula usada é a seguinte:
Quociente Eleitoral (QE) = Total de votos válidos / Número de cadeiras
Só os partidos que atingem pelo menos um quociente eleitoral têm direito a ocupar cadeiras no Legislativo. Isso significa que um partido ou federação que não obtém um número mínimo de votos não consegue eleger um candidato, ainda que este tenha recebido muitos votos individualmente.
O quociente partidário e a distribuição das cadeiras
Após calcular o quociente eleitoral, é necessário determinar quantas cadeiras cada partido ou federação partidária terá direito. Para isso, utiliza-se o quociente partidário, que é obtido pela seguinte fórmula:
Quociente Partidário (QP) = Total de votos do partido ou federação / Quociente Eleitoral
O resultado obtido, em número inteiro, indica quantas cadeiras essa legenda conquistará no Legislativo. Se houver sobras de vagas, elas são distribuídas conforme critérios adicionais, que consideram os partidos ou federações com maior média de votos.
As sobras eleitorais e a regra de distribuição
Nem sempre a divisão das cadeiras ocorre de forma exata. Por isso, muitas vezes sobram vagas após a aplicação do quociente partidário. Para distribuir essas cadeiras restantes, o sistema proporcional adota um mecanismo adicional.
A partir de mudanças na legislação eleitoral, passou-se a determinar que apenas partidos ou federações que atingiram pelo menos 80% do quociente eleitoral podem disputar as sobras. Além disso, os candidatos precisam ter recebido no mínimo 20% do quociente eleitoral para assumirem o mandato.
As cadeiras remanescentes são alocadas proporcionalmente aos partidos com as maiores médias de votos.
Impactos do sistema proporcional na política
O sistema proporcional tem grande influência no funcionamento do Legislativo e na composição das bancadas parlamentares. Alguns dos principais efeitos desse modelo incluem:
Maior diversidade partidária
Um dos principais efeitos do sistema proporcional é a viabilização da presença de múltiplos partidos na Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Dessa maneira, há um cenário de maior pluralidade política, representando distintos segmentos da sociedade.
A importância dos partidos políticos
Como o sistema leva em conta a votação recebida pelos partidos e federações partidárias, a escolha dos candidatos eleitos depende não apenas do seu desempenho individual, mas também do desempenho geral da legenda. Isso incentiva o fortalecimento das siglas e exige uma estrutura interna bem organizada.
A possibilidade de candidatos pouco votados serem eleitos
Em algumas situações, candidatos com votação expressiva podem “puxar” outros candidatos do seu partido para o Legislativo, ainda que esses tenham recebido poucos votos. Esse fenômeno ocorre porque a distribuição das cadeiras segue o desempenho da legenda, e não apenas a quantidade de votos pessoais.
Críticas e desafios do sistema proporcional
Embora o sistema proporcional apresente vantagens importantes para a representatividade política, ele também recebe críticas e desafios.
Distanciamento entre eleitor e eleito
Uma das principais críticas ao sistema proporcional é que ele pode dificultar o entendimento por parte do eleitor. Muitas vezes, os votos destinados a um candidato acabam beneficiando outros representantes do partido, o que pode gerar uma sensação de distanciamento entre a participação do cidadão e o resultado final.
Fragmentação partidária
Como o sistema favorece a diversidade política, ele pode contribuir para a fragmentação partidária. O Brasil possui um número elevado de partidos representados no Congresso Nacional, o que pode dificultar a construção de consensos e governabilidade.
Fenômenos dos puxadores de votos
Candidatos com grande popularidade, como celebridades e figuras públicas conhecidas, podem ser eleitos com votações expressivas e, consequentemente, ajudar na eleição de outros candidatos da mesma legenda, independentemente da votação individual desses candidatos. Isso pode gerar distorções na representatividade.
Conclusão
O sistema proporcional no Brasil é um mecanismo que busca garantir a representatividade política de forma equilibrada, assegurando que os partidos tenham assentos no Legislativo de acordo com sua votação. Apesar de suas vantagens, como a pluralidade e a diversidade de ideias, ele também apresenta desafios, como a fragmentação partidária e a eleição de candidatos com poucos votos individuais.
Para os eleitores, é fundamental entender como esse modelo funciona para uma escolha consciente nas eleições. O conhecimento sobre quociente eleitoral, quociente partidário e distribuição de cadeiras permite que os cidadãos compreendam o impacto de seus votos e a importância de considerar não apenas o candidato individualmente, mas também as propostas e valores do partido ao qual ele pertence.
Perguntas e respostas
1. O que acontece se um partido não atingir o quociente eleitoral?
Se um partido ou federação não alcançar o quociente eleitoral, ele não terá direito a nenhuma cadeira no Legislativo, mesmo que tenha candidatos bem votados.
2. Como um candidato com poucos votos pode ser eleito?
Isso ocorre porque o sistema proporcional distribui cadeiras conforme a votação do partido. Se um candidato com grande número de votos ajuda a legenda a conquistar várias cadeiras, outros candidatos do mesmo partido podem ser eleitos mesmo com votação menor.
3. O que são as sobras eleitorais?
As sobras eleitorais são as cadeiras que restam após a aplicação do quociente partidário. Elas são distribuídas entre partidos e federações que obtiveram pelo menos 80% do quociente eleitoral, priorizando aqueles com maior média de votos.
4. É possível mudar o sistema proporcional no Brasil?
Sim, mudanças no sistema eleitoral podem ocorrer por meio de reformas políticas aprovadas pelo Congresso Nacional. Existem propostas que buscam aperfeiçoar ou substituir o modelo atual.
5. O sistema proporcional vale para todas as eleições?
Não. Ele é utilizado apenas para eleições de deputados federais, estaduais, distritais e vereadores. Para cargos do Executivo (presidente, governadores e prefeitos) e para o Senado, o sistema adotado é o majoritário.
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Este artigo teve a curadoria de Marcelo Tadeu Cometti, CEO da Legale Educacional S.A. Marcelo é advogado com ampla experiência em direito societário, especializado em operações de fusões e aquisições, planejamento sucessório e patrimonial, mediação de conflitos societários e recuperação de empresas. É cofundador da EBRADI – Escola Brasileira de Direito (2016) e foi Diretor Executivo da Ânima Educação (2016-2021), onde idealizou e liderou a área de conteúdo digital para cursos livres e de pós-graduação em Direito.
Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, 2001), também é especialista em Direito Empresarial (2004) e mestre em Direito das Relações Sociais (2007) pela mesma instituição. Atualmente, é doutorando em Direito Comercial pela Universidade de São Paulo (USP).Exerceu a função de vogal julgador da IV Turma da Junta Comercial do Estado de São Paulo (2011-2013), representando o Governo do Estado. É sócio fundador do escritório Cometti, Figueiredo, Cepera, Prazak Advogados Associados, e iniciou sua trajetória como associado no renomado escritório Machado Meyer Sendacz e Opice Advogados (1999-2003).